Entrevista com o diretor Daniel Filho

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Confira uma entrevista com Daniel Filho, diretor do filme Chico Xavier.

Quando surgiu a ideia de fazer um filme sobre Chico Xavier? Foi simultânea à ideia de adaptar uma obra literária?
Daniel Filho: Em 2004 o Bruno Wainer, da Downtown Filmes, comprou os direitos do livro de Marcel Souto Maior, As Vidas de Chico Xavier, e me convidou para produzir o filme. Inicialmente eu não iria dirigir. O Rodrigo Saturnino, da Sony Pictures, que também estava no projeto desde o início, me convenceu a dirigir. Ele me emocionou ao usar o nome do Augusto César Vannucci. Achei um grande desafio contar uma história sobre um assunto em que eu não sou um crente. E me fascinou o homem Chico, a história e quem ele envolveu. Era diferente de tudo o que fiz. Eu recebi mensagens de apoio e torcida como nunca recebi em outros projetos. E me senti em um grande estádio… onde todos nós, que estávamos fazendo o filme, tínhamos a responsabilidade de não decepcionar a torcida.

Como se deu a escalação de Nelson Xavier?

Daniel Filho: Nelson me pediu para fazer o papel. Eu o conheço há mais de 40 anos e ele nunca havia me pedido nada. Mas quando leu que eu iria produzir o filme, me ligou. Disse que queria fazer o Chico Xavier. Depois que o filme foi correndo, eu não sabia exatamente em qual tempo a história seria narrada. Então, logo pensei no Ângelo Antônio, pois seria mais fácil caracterizá-lo, se necessário. Quando o roteiro começou a ficar pronto, vi que precisaria de três Chicos. Pensei nos dois, Ângelo e Nelson, quase que de forma intuitiva, estava muito fechado neles. Além de se parecerem fisicamente, eles têm texturas semelhantes na emissão vocal, na forma de representar e na maneira que constroem o personagem. E, quando marquei a primeira reunião, vi que tinham a mesma altura. Paralelamente, fiz testes para ver quem seria o Chico garoto. Fizemos cerca de 400 testes, no Rio, em São Paulo, Belo Horizonte, Uberaba, São Leopoldo, Curitiba… O Matheus foi quem se saiu melhor e, curiosamente, ele é carioca. curiosamente, ele é carioca.

Fale sobre a preparação dos três “Chicos”: Matheus Souza, Ângelo Antônio e Nelson Xavier.

Daniel Filho: Nelson e Ângelo tiveram mais de três meses de preparação, dei aos dois um trabalho de pesquisa enorme, vídeos, reportagens, livros… Eles visitaram as cidades, ficaram em Uberaba por um tempo. Lá, foram cedidas roupas do Chico Xavier ao Nelson e o Eurípedes, filho do Chico, deu ao Ângelo o perfume que o médium usava. Ele distribuiu o perfume ao Nelson e ao Matheus. E o garoto não rodou uma cena sem antes colocar um pouco do perfume em um lencinho e sentir a essência. Ele tomava uma brisa de Chico Xavier. Eles faziam esta comunhão linda entre si. O Matheus também teve aulas de prosódia para conseguir o sotaque. E treinava umas duas horas por dia para conseguir rodar o pião na areia e pegar com a mão. Eu poderia ter feito isso digitalmente, mas preferi à moda antiga. Quando ele conseguiu, deu pulos de alegria.

Paulo Goulart e Ana Rosa são espíritas. E você os convidou para o filme. Ter atores ligados à religião foi uma preocupação?
Daniel Filho: Sim, eu quis ter uma equipe envolvida com o tema participando do projeto. Não achei um papel para a Nicette Bruno, infelizmente. Também convidei o Carlos Vereza, que não pôde aceitar por estar gravando uma novela, o que o impediria de fazer a barba para o personagem – um padre. Mas ele me ajudou muito, mesmo não participando diretamente. Sua filha, Larissa Vereza, uma atriz que também é espírita, está no filme. Quanto à escalação do elenco, uma coisa difícil pra mim foi convidar a Christiane Torloni. E foi lindo ela ter aceitado. O sentimento da perda de um filho é muito forte, eu não sei como é. E a Christiane sabe. Ela viveu isso dolorosamente em sua vida. E teve a coragem de fazer esta delicadeza com a gente, ela deixou aparecer a dor, deixou passar a realidade que sentia. Ela se concentrou, chorou, reviveu aquilo. Uma dor que não dá pra passar. Mas espero que ela tenha exorcizado aquele sentimento. Fico emocionado ao dizer isso porque o filho que ela perdeu era um afilhado meu, e isso, inclusive, foi o que me deu coragem para fazer o convite a ela.


Infância de Chico XavierTony Ramos é seu alter-ego no filme?
Daniel Filho: Não. O fato de ele ser um diretor de TV e ser ateu são características que podem ser minhas, mas o personagem do Tony sintetiza emoções de muita gente. Na posição em que ele se encontra no filme, representa uma grande parte da população que, como eu, se diz não-crente, mas que, quando se vê diante de algo muito forte, pelo menos deixa escapar a expressão “ai meu Deus do céu.” Em situações que nossas convicções são colocadas em xeque, as coisas podem mudar. Não sei como minhas convicções ficariam diante de alguma situação familiar grave, por exemplo.

Daniel Filho: O Chico Xavier é muito importante. Ele tem esta dimensão espiritual, esta vibração que faz com que permaneça vivo. Ele fala de paz, humanidade, carinho. Chico é uma pessoa que dá esperança de poder viver melhor e isso não é simplesmente uma questão financeira, é viver melhor com você mesmo. É quase que um objetivo analítico, e acho que ele passa isso. Chico foi um consolo, no sentido afetivo, de milhares de pessoas. Doou sua existência ao bem. É o maior líder espiritual que o Brasil já teve. Foi considerado o mineiro do século, ficando à frente de JK e Pelé. O filme não é uma ode ao Chico Xavier. Tentei ser honesto com minhas convicções e dizer o que eu achava necessário. Não omiti nada do que eu sabia sobre aquele personagem. Não tenho a resposta para o que foi aquilo. Acho que Chico é maior que tudo.

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