Entrevista com o cineasta Thiago Moyses

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Thiago Moyses é brasiliense e formado em Comunicação – Cinema pela Universidade de Brasília. Atualmente tem 28 anos e uma filmografia que começou em 2003 com o curta-metragem Fobia, feito em 16mm. Depois foi a vez dos seguintes filmes: Espiral (2004), Centelha (2005/2009), o documentário Vide o Galeno (2006), Espectro (2007/2008) e Síndrome de Pinocchio, que ganhou projeção nacional por ter sido um dos filmes que poderiam representar o Brasil na edição de 2009 do Oscar na vaga de Melhor Filme Estrangeiro.

Nesta entrevista para o Daiblog, Thiago conversa sobre sua carreira e conta novidades a respeito do sistema de cinema 3D sem óculos que está sendo desenvolvido. Entre as perguntas e respostas você pode conferir algumas imagens de filmes do cineasta.

Desde quando pensou em fazer cinema?
Conscientemente, digamos, de forma lúcida, aos 17 anos quando eu soube que existia curso de cinema na universidade. Eu descobri isso no curso intensivo de cinema que fiz no Rio de Janeiro, ministrado pelo cineasta Alberto Salvá, um dos meus incentivadores. Mas desde pequeno desenho e já brincava de fazer quadrinhos… Fui descobrir neste curso no Rio que desenho e quadrinhos tinham tudo a ver com cinema. Comecei aos 5 anos de idade. Aos 6 meu pai já me colocava para ver filmes de Hitchcock e outros filmes de “adulto” . Eu brincava sempre com narrativas com meus bonecos e amigos. Fiz filmes amadores a partir dos 13 anos de idade com a camera VHS da minha avó. Quando fiz 15 anos ela me deu a camera de presente. Daí fizvários curtinhas. Meu primeiro curta consciente, apesar de bem amador, foi Joana, A Arma: Vingança que passou no festival da meia dúzia no colégio Sigma. No terceiro ano fiz vestibular para cinema na UnB e passei. Vendo hoje minha história, com a visão do agora, acho que sem querer fui criado em laboratório para ser cineasta. Minha mãe tinha formação artística de cursos e talento para desenhar, e meu pai sempre foi um intelectual e amante de literatura. Minha mãe salvava meus desenhos do lixo e meu pai me colocava para ver filmes. Eu nunca me impressionei com o cinema europeu, como muitos colegas que o descobriam na faculdade porque desde os 10 anos já assistia filmes franceses, dinamarqueses, irlandeses, iraquinanos, iranianos etc. 

Está filmando agora? Fale dos seus planos para o futuro.
Em julho agora vou começar a rodar o longa Vamos Ser Amigos, uma comédia de humor negro e o mais simples dos filmes que irei rodar. Em seguida tenho mais dois projetos. Um é no Chile, em co-produção com a Roda Produciones, uma produtora de lá. O filme se chama Revelação de Khan e trabalhei muito com narrativa, estudo de mitologia e do conteúdo para escrever o roteiro. Escrevi em parceria com Eduardo Ciattei, que atua como meu assistente de direção focado no roteiro. O terremoto atrasou os planos de filmagem, mas em um ano no máximo devemos rodar lá em Santiago, onde se passa o filme, que será quase todo falado em espanhol. Nesse espaço de um ano também vou rodar meu primeiro longa infanto juvenil, que, claro, poderá ser apreciado também pelo público adulto. O nome é O Pequeno Vidro de Imaginação e vai ser uma espécie de viagem do protagonista, um garoto, após a morte de sua mãe, em um mundo paralelo criado a partir do acelerador de partículas lá da Europa na tentativa de reproduzir o Big Bang. Este filme terá efeitos especiais que já estamos testando, inclusive algumas cenas de 3D sem óculos, que estamos desenvolvendo. Deveremos ter um teste decente até o fim de julho. Outros projetos que já estão encaminhados: Mensageiro, filme de terror adulto que deve ser rodado entre 2011 e 2012; e Aventuras Subjetivas – A Ampulheta Dimensional, um filme de aventura com conceito original. Em 2012 ou 2013 pretendo rodar meu primeiro longa todo falado em inglês, com atores internacionais. O nome do filme é Space Opera, e será todo em 3D sem óculos. Estes são os planos já em andamento. Rodamos agora uma cena piloto para uma série de TV em animação usando a técnica da rotoscopia. A série se chamará Kcrisis e estamos em processo de negociação ainda.

O que acha da produção cinematográfica em Brasília atualmente?

Acho que é muito rica e forte nos curtas metragens. Acho que nos quesito longas precisamos melhorar muito. Produzir mais e finalizar mais rapidamente. Precisamos profissionalizar o cinema local. Mas este é um problema não só de Brasília, raros filmes nacionais funcionam como produção profissional.

Principais festivais e / ou premiações que participou / ganhou.
O Fobia foi praticamente selecionado em todos festivais em que foi inscrito. Estava na mostra principal dos curtas 16mm do Festival de Brasília de 2003. Foi selecionado para a mostra principal no Festival Universitário do Rio. Foi selecionado para a Mostra Internacional de curtas de São Paulo e foi premiado como segundo lugar do júri popular no CineEsquemaNovo 2004 de Porto Alegre. Além disso recebeu o prêmio de melhor figurino e menções honrosas do Correio Braziliense para melhor ator e melhor direçao de arte no Prêmio ABCV 2004. O filme teve grande repercussão por onde passou. O Sindrome de Pinocchio, meu segundo longa, estava na lista entre os 10 pré-concorrentes ao Oscar 2010. O filme também foi selecionado para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Apesar de ter entrado em cartaz por 20 dias em abril de 2009 com apoio da Vivo, o filme começou agora suas inscrições em festivais, principalmente internacionais, e está com uma nova versão, a definitiva, chamada Sindrome de Pinocchio – Director’s Cut. O filme deve voltar em cartaz agora em maio, pelo menos em Brasília e talvez no Rio de Janeiro também. O filme Vide O Galeno passou em exibição especial no FIC Brasília 2006. O Sindrome (a nova versão), o Vide O Galeno e o meu curta Centelha foram selecionados para a Mostra do Sesc do cinema brasileiro. O Sindrome foi exibido em Full HD pela primeira vez. (a nova versão é em 2K, então nada de ser exibido na qualidade total ainda).

Fala um pouco sobre o 3D sem óculos. Tem previsão de data para ser lançada? Quem está desenvolvendo?

Tem sim. pelo menos nossa tecnologia sai junto com o longa metragem Pequeno Vidro de Imaginação, em algumas cenas apenas, pela extrema dificuldade ainda de se rodar. Planejamos rodar o Space Opera em 2012/2013 totalmente em 3D sem óculos. Este filme deve demorar bem mais tempo que os outros para ser finalizado. o video do youtube é apenas um primeiro pre-teste. Lá o 3D sem óculos funciona para a camera, comos e fosse um olho nu, e não para nós ainda. Foi a prova de que esta tecnologia dará a sensação 3D mesmo para quem só enxerga com um olho. Não sei se você lembra do vídeo, mas enquanto a camera mexe, tanto de leve como mais bruscamente, temos a impressão de um túnel, e de as bolas brancas se movimentarem dando a impressão de profundidade e movimento com ela. Então, aquilo na tela não é um video em 3 dimensões, é uma imagem estática em 2 dimensões. Ao se mexer para frente e para trás, parece que as bolas de trás se distanciam ou se aproximam das da frente. Realmente, para quem só viu este pre-teste não tem como entender, seria interessante ver a imagem utilizada. Eu criei a imagem no computador. Assim que as câmeras voltarem do conserto vamos preparar testes decentes do 3D sem óculos. 

Eu com o engenheiro da I-MAGE, Felipe Borges, colocamos no papel e na física e vimos que teoricamente vai funcionar de forma impressionante. A primeira experiência poderá ser incômoda, levando alguns a vomitar, mas logo todos se acostumam, assim como as novidades visuais do passado. Na I-MAGE, nosso grupo de produção, temos subdivisões, que são a Movimento – para produção de arte, figurino e maquiagem ; MidiSounds – para desenho de som, finalização em 5.1 e efeitos sonoros; e o Studio OnFire – responsável pela finalização de imagem, efeitos especiais E desenvolvimento de novas tecnologias de cinema. O Studio OnFire está cuidando do desenvolvimento de tecnologias para cinema e Tv em 3D com e sem óculos ( estamos inclusive melhorando a percepção de cores com o óculos Cyan-Red, que já até descobrimos como usa-lo com cores fiéis) . O objetivo é dispensar salas, projeções ou TVs especiais para isso. Com o 3D sem óculos, sem o nome oficial que terá ainda, queremos dispensar inclusive qualquer parafernália presa ao corpo do espectador. Acho que o cinema 3D só tem futuro se dispensar os óculos. Empresas e estúdios grandes estão também desenvolvendo cinema e TV 3D sem óculos, mas estão investindo em parafernália cara tecnológica, como telas especiais, projetores especiais e TVs especiais que custam o olho da cara. A percepção em profundidade, ou em 3D, é um truque, uma ilusão. Nós não vemos realmente em 3D, nós vemos em 2 x 2D, em que o olho master nos passa 90% da imagem e olho de apoio só serve para referencia de coordenadas de outro ângulo dos objetos no espaço. Ele contribui um pouco apenas para a imagem. Lá no nosso cérebro que se cria a ilusão da terceira dimensão para nos auxiliar na orientação. Sabendo-se que a impressão 3D é uma ilusão, não precisamos de super telas, podemos fazer como o óculos até agora fez, com as facilidades do cinema digital (o que era impossivel com a pelicula): filmar e finalizar de formas especificas para enganar o cerebro e faze-lo funcionar tal como faz com as coordenadas. O interessante é que também não precisamos de 2 olhos para perceber a profundidade. Basta nos movermos um pouco com um olho só para o cérebro somar 2 coordenadas e nos dar o sentido de 3 dimensões, de movimentação no espaço. Por isso este 3D será mais acessível. Agora não posso contar mais senão entrego a tecnologia, nosso grande segredo e trunfo.

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Comentários

  1. Ola boa tarde. Acabei de ler esta entrevista e me pareceu maravilhoso saber de jovens brasileiros tao competentes e conhecedores desta arte que tanto nos encanta.
    Gostaria de saber se existe alguma possibilidade de entrar em contato com thiago moyses atraves de e-mail ou ate agencia produtora. Meu nome e Pablo Lopez e sou musico compositor de trilhas. Um grande abraco para voces.

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