#925-Complexo – Universo Paralelo

*Por Alice Pereira

Quando imagens carregam em si uma quantidade grande de significado, as palavras são totalmente descartáveis. O documentário Complexo – Universo Paralelo é uma boa prova disto. Sem uma frase narrada, a história é contada através de depoimentos e, é claro, imagens. Durante pouco mais de uma hora somos “abduzidos” por uma realidade que poucos conhecemos. Dar voz àquelas pessoas faz com que o documentário fique muito mais verdadeiro. Provavelmente qualquer frase escrita por quem não pertence àquele lugar perderia o sentido.

A narrativa se constrói em três personagens principais. Célia, uma mulher muito pobre, mãe de meia dúzia de filhos, cujo marido sempre aparece visivelmente embriagado. O MC Playboy, um rapper nascido no Complexo do Alemão que tenta retratar em suas letras o cotidiano da comunidade onde vive. E, finalmente, seu Zé, uma espécie de presidente da associação de moradores. Um homem que se importa com o lugar onde vive e tem uma visão política bem formada.

Cada um desses personagens tem em si uma história que funde e se constrói no Complexo. Os detalhes nos revelam muito e cada novo frame somos apresentados à pessoas simples e desconhecidas, mas que trazem uma coisa em comum. Todas sobrevivem diariamente a um cotidiano nada simpático, mas que tem sua peculiaridade.

Célia cata latinhas e vende por alguns poucos trocados para sustentar os filhos e o marido desempregado. Apesar de dizer repetidas vezes que não se importa com a pobreza e que o importante mesmo é ter seus filhos por perto, Célia sofre. Tem um olhar cheio de amargura e sem muitas esperanças. Uma mulher nada vaidosa que vive pelos filhos e para os filhos. A relação com o marido não é das melhores, mas ela tem fé e acredita que Deus irá olhar por ela um dia.

MC Playboy é a típica figura ilustre da comunidade. Conhece todos, fala com todos e sonha com dias melhores. Nos dedos, grandes anéis dourados. De ouro? Quem sabe? Muito vaidoso, ele não se importa de ser filmado em um salão de beleza fazendo as unhas e limpando a pele. Suas letras tem um valor moral e real. Playboy tem uma visão futurista de melhora, assim como seu Zé, que cuida do Complexo do Alemão como se fosse sua casa e trata os moradores como se fosse sua família. Homem simples, sem muito luxo e que conhece como poucos o lugar aonde mora desde que chegou do nordeste ainda jovem. Com ele conseguimos sentir a atmosfera do conjunto de comunidades e sabemos de seus problemas e necessidades. Um ambiente em que pessoas dividem comida com ratos e baratas. Onde os porcos engordam com o lixo deixado em locais impróprios e as valas passam em frente às casas das pessoas.

Quando li o título Universo Paralelo não pensei que fizesse tanto sentido. Os irmãos portugueses, Mário e Pedro Patrocínio, viveram durante três anos no Complexo do Alemão. Acompanharam de perto o cotidiano daquelas pessoas e extraíram de tal experiência um documento vivo e rico de informação. A escolha dos personagens principais foi feita com precisão. O filme dos irmãos Patrocínio não poderia ter sido lançado em outro momento. Hoje, o Complexo do Alemão vive tempos de paz. O tráfico, tão mostrado no documentário, já não reina no Complexo. A fotografia e a realidade esmiuçada em detalhes íntimos valem muito serem conferidos.
Cotação do Daiblog: DaiblogDaiblogDaiblogDaiblogDaiblog

Veja aqui o trailer do filme Complexo – Universo Paralelo:


Complexo – Universo Paralelo (Portugal, 2011) Dirigido por: Mário Patrocínio e Pedro Patrocínio.

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