Palco Daiblog – O Demônio Não Sabe Brincar

*Por Ray de Aguiarraydeaguiar@daiblog.com.br

Produções criadas especificamente para a internet estão ganhando cada vez mais espaço. As chamadas webséries parecem ter vindo para ficar, o que conseqüentemente faz surgir novas oportunidades para artistas divulgarem seus trabalhos, como Mabel Lopes, diretora da websérie de terror O Demônio Não Sabe Brincar. Nesta entrevista para o Daiblog, ela fala das dificuldades de criar uma websérie, as influências para a história, uma análise sobre os diferentes gêneros do cinema e muito mais! Confira:

O que levou você a dirigir a web série O Demônio Não Sabe Brincar?

Foi a vontade de dirigir um filme de terror. E eu queria dirigir um filme de terror por várias razões. Primeiro, porque o meu curta anterior ao Demônio foi uma comédia (chamada Ressaca) e eu queria mudar radicalmente de gênero como uma forma de me desafiar profissionalmente, de testar novas ferramentas cinematográficas. Já tinha conseguido fazer o espectador rir, agora queria fazer algo mais pesado, do qual ele tivesse medo. Além disso, eu tinha acabado de assistir ao filme Arraste-me Para o Inferno, do Sam Raimi, e me encantado com as possibilidades criativas que você tem ao produzir um filme de terror. Eu estava especialmente atraída pela ideia de dirigir um ator no papel do Demônio. Mas a ideia mesmo da série nasceu depois que eu ouvi a música Loverman, do Nick Cave and The Bad Seeds. Depois de ouvi-la, fiquei uns três dias sem conseguir dormir direito, por puro medo mesmo. Foi a primeira vez que uma música teve esse tipo de impacto sobre mim. A partir dela, fiquei ruminando a estória de uma mulher que se vê obrigada a conviver com o Demônio dentro de sua própria casa. Esse é, para mim, o mote de O Demônio Não Sabe Brincar. Passei essa ideia para o Pedro Aguilera, meu amigo e roteirista profissional. Juntos, desenvolvemos a trama da primeira temporada da websérie e roteirizamos todos os episódios.

Gostaria que explicasse um pouco sobre a websérie. Qual a diferença para uma série de TV? É mais difícil criar para a web?

O Demônio Não Sabe Brincar é uma websérie de 7 episódios de 5 minutos cada. De todos esses episódios, já temos o piloto filmado, o que foi possível devido a um edital da Secretaria da Cultura da Prefeitura de São Paulo que contemplou nosso projeto com um prêmio. Estamos em busca do patrocínio para realizarmos os demais episódios, que já estão roteirizados.

A diferença entre uma websérie e uma série de TV é basicamente a janela de exibição. A verdade é que o formato de uma série que passa na internet e uma que passa na TV pode ser muito parecido. Na internet, no entanto, existem possibilidades de experimentação mais amplas.

O piloto de O Demônio Não Sabe Brincar me pareceu uma mistura de O Exorcista com o Cisne Negro. Quais foram as influências para a história?

Minha principal influência ao criar a história do Demônio foi mesmo a música Loverman, em que Nick Cave canta: “Há um demônio deitado ao seu lado, na sua cama. Você acha que ele está dormindo, mas olhe seus olhos”. Essa parte da música sempre me dá arrepios! Também usei como referência a forma como o cantor Nick Cave se locomove, de quatro, como uma animal, em um momento do clipe dessa música, para a forma como o Demônio anda até o botijão de gás no piloto da websérie. Essa coisa animalesca do Demônio na websérie vem muito desse clipe. Mas claro que essa característica foi colocada de forma sutil no piloto, em momentos estratégicos.

Além dessa música e desse clipe, eu assisti a muitos filmes de terror para dirigir o Demônio e angariei muitas referências para todos os departamentos do filme: fotografia, som, música etc. É que eu tinha para mim que o terror é um gênero bem estabelecido e que muitos “truques” cinematográficos para alcançar o medo já existem e estão espalhados nos melhores filmes de terror que existem. Fui atrás deles. Assisti a todos os clássicos aos quais ainda não tinha assistido, analisei meus filmes de terror favoritos e, no meio do caminho, vi muitos filmes mais obscuros e alguns bem ruins também.

Porém, apesar de eu me guiar muito pelos filmes de terror e pelas regras do gênero, minha principal referência cinematográfica para fazer o Demônio foi A Rede Social, de David Fincher, filme pelo qual eu estava meio obcecada na época. Ele foi uma forte referência para vários departamentos fílmicos de O Demônio Não Sabe Brincar, mas especialmente para a decupagem.

Qual seu filme de terror preferido?

O Grito, de Takashi Shimizu.

Conte-nos algum fato interessante ou engraçado das gravações do piloto.

Não é um fato muito engraçado, na verdade, é um pouco preocupante! Mas tivemos que interromper as filmagens dos planos próximos em que o Demônio liga o isqueiro para explodir o botijão de gás, porque percebemos que estava vazando gás. Eu gostaria de ter filmado mais planos daquele, mas isso poderia ter significado o fim do set de uma forma bem definitiva.

Qual seu gênero (comédia, drama, terror, aventura, etc.) preferido? Por quê?

Gosto de todos os gêneros, não tenho um preferido. Gosto, também, da mistura de gêneros. Os gêneros cinematográficos são como sabores, você escolhe aquele que está com vontade de provar no dia. O legal é quando você vê uma comédia em um dia em que está com vontade de rir ou precisando rir, ou quando você vê um terror quando está precisando das emoções que esse gênero lhe proporciona. A mistura de gêneros é interessante porque é capaz de surpreender, traz elementos inesperados.
Veja agora o episódio piloto de O Demônio Não Sabe Brincar:

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