Curtas abordam imigração e protestos na Mostra Competitiva

Uma plateia vibrante, recheada de realizadores e cinéfilos brasilienses marcou presença na 2ª sessão da Mostra Competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro no último domingo (16), às 21h. Quem passou pelo Cine Brasília teve dificuldade de entrar, já que a fila dava inúmeras voltas. Mas quem enfrentou e conseguiu, teve a certeza que valeu a pena conferir às três críticas e ácidas produções do dia, incluindo o longa-metragem representante de Brasília:  New Life S.A, de André Carvalheira.
A sessão teve início com o poético curta-metragem de São Paulo, Liberdade. O filme, assinado por Pedro Nishi e Vinicius Silva, faz uma crítica a esta liberdade ao falar de imigração. A imigração para o bairro, coincidentemente e propositalmente, chamado de Liberdade (SP). A região, um reduto de japoneses, é desmistificada. Afinal, não são apenas os nipônicos que vivem por lá. E os diretores retratam isto pela visão de um negro que mora no bairro junto com outros negros e com uma japonesa. 
Em um barraco apertado, eles trocam memórias sobre suas famílias distantes e falam um pouco da árdua rotina diária. Ponto interessante da produção, é o câmbio das culturas presente em detalhes. Seja em uma reunião de almoço – onde os pratos atendem desde a cultura japonesa até o típico PF (prato feito) brasileiro; seja no próprio bairro que, embora exalte a cultura japonesa, conta com esquinas onde vemos um pouco de um tudo. A saudade de casa e as dificuldades de quem vive por lá, como imigrante, dão um tom crítico e nostálgico a esta produção.
Na sequência, foi o Rio de Janeiro que tomou conta da telona. Sempre Verei Cores no Seu Cinza, assinado por Anabela Roque, também chega com uma crítica, mas desta vez o foco é o descaso com a UERJ, universidade carioca que se encontra largada às traças. Cenas refletem desde um bandejão abandonado, salas vazias, descaso com os alunos, professores e com o próprio centro de ensino que foi ocupado por placas e choros de protestos. Embora conte com estes detalhes, a produção deixa a desejar. E deixa a desejar exatamente por não se aprofundar no assunto, se resumindo apenas às imagens que chegam a causar incômodo – já que também escutamos um rompante de gritos descontextualizados dos alunos. 
O incômodo, claro, é proposital. Mas poderia nos incomodar muito mais em um sentido positivo se, quem sabe, a diretora tivesse colocado um ponto de vista mais subjetivo. Ao retratar o rompante superficial de vários alunos, o filme deixa de lado a essência de cada. A causa vira uma junção de badernas que só se traduzem nos letreiros finais que, aí sim, descrevem o descaso com a UERJ. 
*Por Clara Camarano – contato@cine61.com.br

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