Entrevista com o cineasta Gustavo Accioli

O cineasta Gustavo Accioli fala sobre seu filme Mulheres no Poder. Na trama, a senadora Maria Pilar (Dira Paes) elabora um esquema com a ministra Ivone Feitosa (Stella Miranda) para fraudar o resultado de uma licitação. Tudo se complica quando suas assessoras resolvem montar seu próprio esquema.


Como foi a pesquisa para retratar com fidelidade os meandros da política em Mulheres no Poder?

Por causa desse filme eu frequentei muito o Congresso Nacional. Desde pelo menos os meus dez anos de idade eu acompanho política. Era uma obsessão. Sempre participei das discussões de política, sempre pensei a realidade brasileira. Esse é o assunto da minha vida. Consegui trazer uma vivência para um filme. Por isso, os diálogos foram fluindo.

Você participou do projeto do filme desde o princípio. Como surgiu a ideia do longa?


O roteiro surgiu a partir do argumento de um amigo sobre um homem que levava algumas mulheres para uma festa. Entre elas, estava uma senadora. Isso despertou a minha ideia. O título do argumento era Saias.

O humor que o filme lança mão é muito peculiar. Quais foram suas influências na comédia para chegar até esse resultado?

Considero esse filme um herdeiro do Viva o Gordo!, do Jô Soares, e da série O Bem Amado, com o Paulo Gracindo. Está presente também o humor britânico, que fez parte da minha formação.

Como foi a relação com o elenco antes e durante as filmagens?

Gosto de usar o que o artista vem trazer para mim. A visão de mundo de cada um. É por esse motivo que é usada a palavra intérprete, quando falamos de pessoas que trabalham com artes cênicas. Por isso, eu gosto de estar cercado de um grande elenco, como aconteceu em Mulheres no Poder. Fui eu mesmo que fiz esse casting. A partir de um convite para ministrar um curso para atores no Festival de Brasília, percebi que aquele era um caminho. Depois, fiz um trabalho parecido, também com durante um longo tempo, também com os atores.


É possível reverter o quadro da corrupção no Brasil? Quais são as principais dificuldades no combate a esse problema?

A lei é muito ruim. Ela emperra o país e precisa ser revista. Essa história dos aditivos é uma desfaçatez. Não só para o lado dos empreiteiros. Os aditivos são um reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, da incompetência de fazer editais. As autoridades têm certeza que não conseguem fazer bem feito. A relação do público com o privado nunca é pela consequência. A pilar faz alguns questionamentos que são engraçados, mas são interessantes. É só oferecer o melhor preço e acabou?

O filme traz um caleidoscópio de referências à pluralidade do Brasil. Em Brasília, essa mistura é muito presente. Como você chegou a esse resultado?
O sotaque me guiou muito. Se eu tinha uma carioca fazendo a Madalena, por exemplo, não queria outra carioca fazendo a Laila. Na minha cabeça, a Rosário sempre foi negra. Mas quando descobri que a Elisa Lucinda era capixaba, achei melhor ainda. A Totia Meireles, por exemplo, é do Mato Grosso. Eu dizia: ‘Tenta trazer o Mato Grosso’.


Além de viver a protagonista, Dira Paes tem um papel especial ao longo do filme. Como foi a participação dela?

A Dira é a maior atriz do cinema brasileiro. Neste trabalho, ela fica 80% do tempo do filme em cena. Isso não é para qualquer um. Para mim, na hora da escalação, fazia toda diferença trazer uma mulher identificada com o povo brasileiro. A Pilar é uma senadora de primeira viagem que por algum motivo, que eu nunca construí qual, ficou muito famosa. As conversas que eu e Dira tínhamos, por exemplo, no set, entre as filmagens e o camarim, eram muito importantes.

Entre o momento em que o roteiro é idealizado e a prática da filmagem é comum que os filmes passem por muitas mudanças. Quais foram as adaptações pelas quais o Mulheres no Poder teve que passar?

A Rogéria foi um achado. Com a presença dela na primeira cena, a mensagem foi outra, ficou completamente diferente. A cena em que o George e a Pilar entram no banco, foi filmada na Ilha do Fundão. O desenho arquitetônico dos prédios por ali é muito parecido com o de Brasília. O Fundão nos salvou (risos). A cena em que o esquema é descoberto era para ser dentro de um jatinho, mas aconteceu dentro de um carro. Achei que ficou até melhor. Tem aquela coisa non sense da troca dos pneus.

Qual foi o momento mais marcante das filmagens?

Naquele momento no qual o advogado Stephan está contra a parede, que ela diz que não teria jeito, eu fiquei emocionado. Era um pouco eu ali, quem sempre tenta fazer tudo certo. Aquele personagem é um pouco o meu alter ego. Todos os personagens têm um pouco do autor.

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