Uma entrevista com Chan-wook Park sobre o filme A Criada

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Na entrevista a seguir, o cineasta sul-coreano Chan-wook Park fala sobre  A Criada, seu recente trabalho. A crítica do longa-metragem pode ser lida neste link.

Conte-nos coo foi a escolha deste projeto para ser seu próximo filme.
O mesmo aconteceu com Oldboy. O produtor Syd LIM chegou ao material de origem
primeiro, mostrou para mim e perguntou “O que você acha?” Tenho certeza de que aconteceu
o mesmo com outros leitores, mas quando li o romance, o fim da primeira parte me pegou
totalmente de surpresa, porém não foi só isso, eu me apaixonei completamente pela escrita
vívida e detalhada da autora. Mais do que qualquer outra coisa, eu escolhi esta história porque
as duas mulheres em seu centro parecem tão vivas. Uma é uma pessoa com um passado
sombrio, a outra alguém vivendo um presente desesperado, ambas exalando um senso muito
forte de individualidade e charme.

Por que você resolveu transpor a história da Inglaterra Vitoriana para a Era Imperial e não outro período da história da Coreia?
Os motivos foram práticos. Pensamos em elementos do enredo como uma sociedade em que
ainda há a separação de classes por nobreza, na ocupação japonesa mostrada em A Criada,
no personagem que coleciona itens raros e em outros fatores. A Era Imperial ainda
apresentava elementos tradicionais, mas já via uma modernidade se manifestando, por isso
sua escolha.

Todos os seus filmes anteriores tiveram um dsenho de produção extraordinário, mas A Criada destacou-se particularmente neste aspecto. Pode explicar sua intenção e seu conceito por trás da direção de arte?
A casa é um espaço importante. KIM Hae-sook diz no início: “Nem mesmo no Japão você pode
encontrar uma casa que combine os estilos japonês e ocidental. Ela reflete a admiração de
Mestre Kouzuki pelo Japão e pela Inglaterra.” Quando os personagens entram na ala japonesa
da construção devem tirar os sapatos e quando caminham pela ala ocidental devem calçá-los
de novo. A personalidade da casa é um elemento importante. O quarto de Hideko fica
localizado na ala ociental, então ela dorme numa cama ocidental e vive como uma mulher
ocidental. Contrastando, o quarto da criada fica ao lado e tem estilo japonês, assim Sookee
vive num “oshiire”, uma espécie de closet para armazenar roupas de cama.
O espaço mais importante em termos de desenho de produção é a biblioteca. O exterior é de
tradicional arquitetura japonesa, enquanto que o interior tem estilo ocidental. Dentro da
biblioteca, há também uma seção com tatames, que durante as leituras são enfeitados como
um jardim japonês, com seixos brancos, pedras e água. Jardins japoneses devem reproduzir o
mundo em miniatura – montanhas e rios, lagos e florestas – então o ato de Kouzuki de movê-
lo para o interior tem a ver com criar um novo mundo dentro de seu próprio reino.

Quero perguntar sobre os movimentos de câmera. Acho que nunca assisti à câmera se movento pelo espaço como em A Criada.
A casa do filme é grande e só há alguns personagens naquele espaço vazio. Além disso, há
várias cenas que vemos a partir da perspectiva de Sookee na primeira parte, depois do ponto
de vista de Hideko na segunda parte. Através desse movimento, há um “jogo de olhares” no
qual alguém está olhando para outra pessoa, ignorando-a ou suspeitando de seu olhar. Houve
momentos em que tal dinâmica foi expressa melhor com closes, outras vezes a câmera em
movimento foi mais eficiente.
Na verdade, no início, eu pensei em filmar em 3D. Normalmente, são filmes de ficção científica
e ação que costumam usar 3D, mas achei que usá-lo nesse tipo de drama seria interessante. O
3D teria enfatizado a perspectiva de cada personagem de uma forma mais pronunciada. No
fim, não conseguimos viabilizar a ideia financeiramente, mas eu acho que o movimento da
câmera funciona como uma espécie de substituto do efeito que eu queria.

Pode nos falar sobre a decisão de usar lentes anamórficas? Eu soube que o desenhista de produção teve que tornar o set maior para acomodar as lentes.
Antes das filmagens, passei muito tempo discutindo as lentes anamórficas com o diretor de
fotografia. Era um luxo que poderíamos nos permitir ao filmar com câmeras digitais. Eu ainda
acho que o filme é superior ao digital e, se pudesse escolher, preferiria filmar em filme, mas
uma das coisas que poderíamos fazer aderindo ao digital seria usar lentes anamórficas. Eu
tenho um carinho especial por filmes filmados com lentes anamórficas antigas e meu diretor
de fotografia tinha um interesse especial em combinar lentes das antigas com câmeras digitais
novas. O visual que isso cria é único e pareceu apropriado para a época em que o filme se
passa.

Antes das filmagens, você deu CDs de música para a equipe do elenco. Qual foi a sua intenção?
Eu não planejei usar as músicas no filme, mas queria que os atores e a equipe pudessem sentir
a atmosfera de como o filme ficaria depois de pronto enquanto estavam se preparando. Havia
os desenhos do storyboard, mas já que a música é tão eficiente em criar um clima, preparei
três CDs musicais para dar para eles.

Como você descreveria A Criada, em poucas palavras?
É um suspense, uma história sobre trapaceiros, um drama com viradas inesperadas e, mais do
que tudo, um romance.

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