Comédia Divórcio reproduz estereótipos e machismo

A mulher como aproveitadora financeira de um divórcio. O homem como provedor da sociedade patriarcal. A bordo de estereótipos, o filme brasileiro Divórcio, de Pedro Amorim, não traz qualquer discussão efetiva sobre padrões de gênero. Pelo contrário, reforça estigmas em pleno 2017. O filme começa ao som da marcha nupcial que embala o casamento arranjado (que seria comum) em ricas famílias em Ribeirão Preto (SP).  Próximo dali, Júlio (Murilo Benício) faz uma perigosa fuga de carro, com as mãos atadas, ao som de um “rock” pesado. O objetivo dele é chegar a tempo de impedir o casamento de Noeli (Camila Morgado), sua amada. Esse é o início do filme. Aos poucos, quem quer se separar da história é o público.

É claro, ela larga o casamento, a família e foge com o seu pretendente fugitivo para viver uma vida de incertezas, mas com amor. O que acontece a seguir é que, morando juntos, Noeli desenvolve uma fórmula para um específico molho de tomate que faz sucesso. Logo, o negócio se expande e a marca do molho de tomate “Juno” se torna uma grande empresa com muitas riquezas. É aí que começam os problemas… os dois passam a enxergar mais motivos para se odiarem do que se amarem e, enfim, se divorciam. A gota d’água foi Júlio esquecer Noeli no meio de uma estrada de terra, em um carro enguiçado, apenas com a companhia de uma coruja e de uma onça.

O resto da trama se baseia na intensa guerra judicial que os dois se dispõem a travar. Júlio contrata o “melhor advogado” de Ribeirão Preto, Roberto Lobão (André Mattos); e Noeli passa a trabalhar com a advogada rival do jurista ambicioso e imoral que porta sempre um copo de “whisky” e um charuto, Priscilla Kadisci (Ângela Dippe). Ela, igualmente antiética, sempre preocupada com a aparência, pratica exercícios físicos sempre que entra em cena.

As defesas sugeridas pelos advogados se baseiam em clichês do separamento. A mulher tem que se fazer de coitada, abalada, usar roupas velhas, como se estivesse passando por miséria; o homem tem que se mostrar um bom pai, responsável e preocupado com o futuro e bem estar das filhas.O filme se baseia em estereótipos machistas e patriarcais. Júlio é o matuto que ama carros grandes e potentes; enquanto Noeli, passa suas tardes comprando sapatos caríssimos de até R$ 7 mil. Os advogados têm um peso muito grande na construção desses preconceitos. Eles reforçam o que seria uma “separação estereótipo”, onde a mulher é vista como uma pessoa perversa que deseja sugar todo o dinheiro do marido e o homem como um líder de família, poderoso.

Em uma das discussões de Júlio com Lobão, o advogado apresenta várias formas de se deturpar os fatos para beneficiar Júlio no julgamento. Contrariando-o, o recém separado questiona se eles não poderiam agir de forma mais racional. Ao que lobão responde com a frase: “Ex-mulheres não são seres racionais”. No outro lado do jogo, Noeli é aconselhada por sua advogada a ser uma “mulher indefesa, com duas filhas para crias”. Os estereótipos são mantidos dos dois lados de forma a construir um clichê ultrapassado de comédia romântica que não se aplica mais a sociedade. Por fim, os efeitos e trilhas do filme não comprometem a narrativa. As cenas de corrida do carro são de alta qualidade e as explosões e tiroteios também. Se a procura for por um filme que busque discutir a questão do divórcio de forma madura e sem estereótipos, esse não é o filme que deve-se assistir. A produção do filme não respondeu questionamentos da reportagem sobre esses estereótipos.

*Por Bruno Santa Rita – da Agência UniCEUB

Veja aqui o trailer do filme Divórcio:


Divórcio (Brasil, 2017) Dirigido por Pedro Amorim. Com Carol Severian, Murilo Benício, Márcia Cabrita, Ângela Dip, Thelmo Fernandes…

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