Entrevista: memórias e raízes no curta Casca de Boabá

O curta-metragem Casca De Boabá, de Mariana Luiza, foi selecionado para o 4º Cine Jardim – Festival Latino-Americano de Cinema de Belo Jardim, em Pernambuco. O Cine61 – Cinema Fora do Comum conversou com o cineasta, que falou sobre seu mais recente trabalho. Um filme que fala sobre questões atuais da sociedade brasileira.

Você tem muita experiência com roteiros e histórias. Como você resume a sinopse de Casca de Baobá
Eu estudei roteiro antes mesmo de direção. Desejava ser escritora e sempre li e escrevi muito, mas este é meu primeiro filme. Meu primeiro roteiro de ficção. Casca de Baobá conta a história de uma quilombola que vai para o Rio de Janeiro estudar na universidade e troca cartas com a mãe. É um filme sobre raízes e memórias.


Você dedica seu filme a alguém ou a algum grupo em específico? Quem? 
Dedico aos quilombolas da Machadinha (Quissamã-RJ) onde filmamos.
Como foi o edital do Ministério da Cultura que viabilizou a produção do seu curta? 
O edital Curta Afirmativo foi criado no governo da presidenta Dilma, uma ação entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR) para fomentar a produção de filmes de curta-metragem dirigidos / produzidos por negros. Ele teve apenas duas edições e muita polêmica. Não sei se te recordas, mas o primeiro edital foi impugnado. A sentença afirmava que o Edital estimulava a criação de “guetos culturais”, uma vez que apenas os negros teriam direitos a criarem conteúdos audiovisuais. Mas aí eu te pergunto. E o cinema brasileiro? Ele é racista e misógino já que os homens brancos dominam a grande maioria das produções? A sentença falava de desigualdade racial, mas a gente precisa entender que não somos iguais e ninguém quer ser igual. Queremos apenas as mesmas oportunidades dentro da pluralidade. O edital teve apenas duas edições, uma pena. Editais de produções audiovisuais exclusivamente para realizadores negros, indígenas e mulheres são extremamente importantes para a pluralidade que o cinema brasileiro pode ser. Esta é a única forma de mudar nossas representações nas telas. 

Estamos em 2018 e a representatividade dos negros no audiovisual ainda se restringe a determinados tipos de papéis. Por que isso não muda? 
Os filmes narram histórias pensadas por roteiristas, diretores e/ou produtores. Se estas pessoas pertencem a uma mesma classe social, etnia e gênero veremos sempre filmes com estes pontos de vista. Por mais sensível que este homem seja, ele contará a história do ponto de vista de um homem branco de classe média. Dar oportunidades aos negros de contarem sua própria história nada mais é do que mudar o olhar do cinema. A gente começa a ver histórias diferentes daquelas mesmices que estamos acostumados. 

Seu filme foi recentemente selecionado para o 2º Festival de Cinema no Paranoá, em Brasília; e também no 4º Cine Jardim – Festival Latino-Americano de Cinema de Belo Jardim, em Pernambuco. Como tem sido a recepção do público diante seu trabalho? 
Muito legal! Conheci alguns quilombolas que se identificaram com a história da protagonista e gostaram de se ver retratados na tela. Isso é o mais gratificante de um trabalho!

*Por Michel Toronaga – micheltoronaga@cine61.com.br


O jornalista viajou a convite da organização do Cine Jardim

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